Wanja Antunes
Os pombos estão presentes na paisagem urbana, são aves mansas e engraçadinhas, mas que dividem opiniões. Símbolo do amor e da paz e muitas vezes encontradas em imagens sagradas, essas aparentemente inofensivas aves podem tornar-se um grande pesadelo para a vida urbana, causar prejuízos materiais e até problemas de saúde.
As fezes ácidas dos pombos, além de sujar a cidade, podem causar danos à pintura de veículos, aos patrimônios históricos e ainda matar plantas ornamentais e gramados. O acúmulo de fezes, penas e restos de ninho ainda pode causar entupimentos em calhas, tubulações de escoamento pluvial e apodrecimento de forros de madeiras. Esses problemascausados por pombos são muito comuns nos condomínios das grandes cidades.
“Os pombos entram pelos basculantes, beirais de paredes, telhados e janelas das residências. Os vizinhos reclamam porque têm que deixar as janelas fechadas por causa das fezes e das penas que penetram nos apartamentos. Esse assunto já foi discutido em reunião de condomínio”, explica Ângela Monteiro, síndica do condomínio Roberto Benjo, na Tijuca, que entrou em contato com a Vigilância Sanitária em junho de 2008.
“Quando falei com a Vigilância Sanitária, eles me deram algumas recomendações, como não alimentá-los nem deixar água parada, porque eles transmitem doenças e seriam como ‘ratos voadores’. Mandaram limpar o localcom cloro e colocar telas, mas o acesso é muito perigoso, e não posso expor os funcionários a risco. Esse trabalho deveria ser feito por eles, não temos como limpar”, desabafa a síndica.
Por outro lado, o biólogo do Centro de Controle de Zoonoses da Vigilância Sanitária, Marco Antônio Vicente da Costa, explica que apenas orienta as pessoas que telefonam, não faz a retirada dos pombos, já que a demanda de pedidos é enorme, e o órgão não dispõe de um número grande de carros, motivo pelo qual prioriza as visitas em asilos e escolas para dar recomendações. O biólogo alerta ainda para os aspectos que podem chamar a atenção das aves: “Só há três motivos que atraem os pombos: alimento, água e abrigo. Se eles tiverem um desses três itens, automaticamente se adaptam ao local. O procedimento correto quando o pombo escolhe um abrigo é limpar as fezes com o local umedecido e, em seguida, fazer uma vedação com alvenaria ou madeira; colocar só a tela não adianta, porque eles a furam.”
Existem alguns produtos que são comercializados com a promessa de repelir as aves, mas na opinião do biólogo tais repelentes são paliativos. “Isso é uma jogada comercial. Eles vendem o artigo com garantia de seis meses, mas na verdade só funciona por até três meses. Então o cliente compra mais uma vez, mas essa não é uma ação definitiva, porque os pombos voltarão. Outra opção é colocar graxa em todo o telhado, porque, desse modo, os pombos não conseguem pousar.” Quem quiser tirar dúvida, pode entrar em contato com a Vigilância Sanitária Municipal.
Já Francisco Mascaro, diretor de uma loja que vende repelentes, garante que o produto funciona: “Nós vendemos repelentes legalizados pelo Ministério da Agricultura. Nosso gel tem um produto adesivo que dificulta o pouso da ave, mas não traz danos ao pássaro, diferente do visgo, que é uma armadilha. O produto não tem derivados de petróleo, como a graxa, por isso é ecologicamente correto, além disso, ele é resistente ao sol até 90º Celsius e só sai com solvente, o que faz com que dure de seis meses a um ano. O pombo tem uma memória de três meses, depois desse tempo ele se adapta em outro lugar. Desse modo, usar o produto durante esse período faz com que o pombo procure outro abrigo.”
O maior problema, no entanto, é a transmissão de algumas doenças, fato que fez com que o pombo fosse classificado
como “praga urbana”. O curioso é que quando se fala nesse assunto, o primeiro dano que vem à cabeça é a toxoplasmose, porém a veterinária Danielle Oliveira de Souza explica que essa doença não é tão comum como se pensa. “O pombo, quando infectado, apresenta o cisto do toxoplasma na musculatura e só se torna nocivo para o homem e para outros animais se sua carne contaminada for ingerida.”
De qualquer forma, é preciso tomar certos cuidados porque existem doenças que podem ser causadas por fatores vinculados aos pombos. “Alergias e demartites podem surgir devido ao contato com ectoparasitas presentes na ave (piolhos, carrapatos); doenças do trato respiratório, como histoplasmose e criptocose, e as gastroenterites também são um risco por causa da contaminação da água e dos alimentos
por bactérias como salmonela e pseudomonas. Já que há doenças que são transmitidas por vias respiratórias – pela inalação de fezes secas – e as oriundas da ingestão de alimentos e água contaminada por agente etiológico, um manejo adequado do local é o suficiente para evitar essas doenças”, explica a veterinária. Por isso, quem tem esse problema em casa deve manter o ambiente sempre muito limpo. “A limpeza das fezes secas deve ser realizada com um pano úmido ou o local umedecido para evitar a inalação; é fundamental manter sempre a caixa-d’água e os alimentos tampados, evitando a contaminação”, adverte a profissional.
Mariane Vieira, moradora do Recreio, é outra vítima. Sua luta para repelir os pombos começou desde o dia em que se mudou. “Na época em que mudamos para este apartamento, ouvíamos uns barulhos a noite toda, mas como estávamos sem tempo, ficamos alguns dias sem abrir a janela onde há uma jardineira. Quando percebemos, havia dois pombos mortos e um ninho com quatro ovos. Chamamos uma pessoa para retirar as aves mortas e limpar o local. Quando aplicamos a argila (um tipo de repelente), a freqüência dos pombos diminuiu, mas eles continuam aparecendo. Nosso próximo passo é colocar uma tela”, conta Mariane, que está pensando em se mudar.
A invasão dessa população voadora é característica de várias cidades no mundo inteiro. Em alguns países da Europa, esse problema está sendo resolvido por meio do controle da natalidade. O sistema consiste na criação de pombais nas áreas com grande número de aves, nos quais uma pessoa especializada é responsável pela substituição dos ovos originais por ovos artificiais. Além desse procedimento, também já é conhecido o uso de contraceptivos, mas a veterinária Danielle esclarece: “É importante saber que a utilização de anticoncepcionais deve ser feita por técnicos especializados e que seu uso indiscriminado afeta também a reprodução de outras aves. O ideal é o uso de medidas integradas e a conscientização da população quanto à alimentação descontrolada dessas aves, visto que está diretamente relacionada à reprodução exagerada dessa espécie.”
É sabido que muitos simpatizantes dos pombos têm o hábito de alimentá-los em condomínios, praças públicas, praias e até mesmo em seus lares. O excesso de alimento acelera a procriação deles, aumentando o número de ovos e, conseqüentemente, de filhotes. Esse inocente ato agrava o risco de transmissão de doenças e danos ambientais. Por isso, é recomendado não alimentar os pombos, manter o lixo em sacos bem fechados e evitar deixar restos de comida visíveis.
Causando incômodo ou não, o fato é que algumas pessoas cometem atos de crueldade contra animais, inclusive contra essas aves, usando visgo para prendê-las ou disparando tiros de chumbinho. Vale lembrar que a exterminação dos pombos é completamente ineficaz a médio e longo prazos. Os pombos são considerados parte integrante da fauna silvestre brasileira e por isso são amparados pela legislação de proteção à fauna. Qualquer ação de controle que resulte em morte e danos físicos pode ser considerada crime passível das penas previstas em lei (Instrução Normativa do Ibama nº 109, de 3/8/2006).
O outro lado da moeda
Mas nem só de “pedradas” vivem os pombos. Há pombos de raça que são cuidados com tratamento VIPVIPVIP, ouvem música clássica, tomam vitamina, banho e fazem musculação. Essas regalias são luxos de um grupo especial de pombos que já foram considerados heróis em época de guerra – os pombos-correios. Utilizados desde tempos antigos para transportar mensagens militares, administrativas e comerciais, essas aves cultuadas por um grupo de columbófilos têm um instinto muito desenvolvido para regressar a seu ponto de origem. Sendo um dos primeiros animais domesticados, o pombo faz parte do patrimônio cultural da humanidade.
A columbofilia é a arte de criar pombos-correios com fins desportivos. São organizados campeonatos e concursos, e as aves são tratadas a pão-de-ló. Os atletas voadores vivem em pombais que devem responder a algumas exigências – estar bem limpos, expostos ao sol e secos, e as instalações devem ser livres de parasitas e protegidas de animais daninhos. A alimentação também é um item curioso: o pombo-correio é uma ave que se alimenta, principalmente, de grãos. A dieta, como a de qualquer atleta, deve ser perfeitamente equilibrada, com proteínas, hidratos de carbono e gordura, para proporcionar todos os requisitos necessários, nos diferentes períodos fisiológicos e desportivos.
Os pombos são tão bem-cuidados que quando o assunto é doença o presidente da federação, Márcio Borges, defende: “A única doença comprovadamente transmitida por pombos provém de fezes velhas (também podem ser de ratos, gatos e morcegos) que geram fungos nocivos aos demais animais, inclusive ao homem. Mesmo um pombo de rua extremamente maltratado não transmite doenças aos seres humanos. Quem diz o contrário está mal-informado. A Federação Internacional de Columbofilia financia testes nesse sentido. Aliás, já financiou exames que provam que mesmo a gripe aviária não é transmitida por pombos.”
No site da Federação Columbófila Brasileira podemos encontrar todos os cuidados que os pombos-correio devem receber, como modo de reprodução, boas condições do pombal e conselhos, entre outras curiosidades sobre esse universo pouco conhecido.
Curiosidades
– Pombos podem voar até 80 km/h.
– Pombos são monógamos.
– Durante a Segunda Guerra Mundial, 32 pombos ganharam medalha de bravura.
– Há 250 espécies de pombos espalhadas pelo mundo. Três delas foram domesticadas.
– Cientistas afirmam que os pombos são capazes de distinguir características humanas; conseguem diferenciar pessoas por sexo, cor, idade e tamanho.
– Até hoje, são usados para entrega de medicação e mensagens em regiões remotas.
– O pombo tem preferência por grãos e sementes, mas não são exigentes e comem pão, restos de refeição e lixo.
– No clima em que vivemos, ocorrem entre cinco e seis ninhadas por ano. O tempo de incubação dos ovos é de 17 a 19 dias.
– Nos centros urbanos, o tempo de vida dos pombos é de três a cinco anos; em condições silvestres eles podem viver até 15 anos.
– Os gaviões são seus maiores predadores naturais.
FONTE: Notícias amazonas – http://www.d24am.com
MÊS: outubro
Ano: 2012